Uma vez que estamos no mês dos santos populares (o que para muitos não representará mais do que uns feriados e umas pontes que tão bem calham, vinho tinto, sardinha assada, arraiais e marchas populares), resolvi postar algo um pouco mais aprofundado sobre esta época festiva, mais especificamente sobre o Santo António. Não só por ser o santo padroeiro de Lisboa, mas também por estar relacionado com Pádua - cidade italiana, que tanto me cativou.
Comecemos com um pouco de história: Fernando Martim de Bulhões e Taveira Azevedo (mais tarde Santo António) nasceu em Lisboa em 15 de Agosto de 1195 e morreu em Pádua em 13 de Junho de 1231. Os primeiros oito anos da sua vida foram passados em Lisboa e Coimbra e inteiramente dedicados aos estudos, tendo ficado conhecido como "Arca do Testamento" entre os seus colegas devido à sua vasta cultura. Ao contactar com alguns fransciscanos que passaram por Coimbra, Fernando Azevedo ficou claramente impressionado com a sua postura e decidiu entrar para a Ordem Franciscana, adoptando o nome de António (em homenagem a Santo Antão). Partiu para Marrocos para pregar a Palavra, mas ao chegar a África adoeceu, o que o obrigou a regressar de imediato a Portugal. Porém, uma forte tempestade obrigou o barco onde seguia a dirigir-se para o Mediterrâneo, atracando na Sicília. Uma vez em Itália e já recuperado da doença que contraíra, Santo António decidiu viajar até Assis, onde conheceu São Francisco pessoalmente. De cidade em cidade, de pregação em pregação, Santo António chegou a Pádua onde converteu um grande número de pessoas. Fruto da sua dedicação aos pobres e humildes, Santo António foi eleito pelo povo como o "Santo protetor dos pobres". Aos 36 anos acabou por falecer, encontrando-se os seus restos na Basilica di Sant'Antonio, na cidade de Pádua.
Em termos de comemorações, as diferenças entre as culturas italiana e portuguesa são visíveis. Enquanto que em Lisboa temos as marchas, os arraiais, Alfama repleta de balões, arcos e manjericos, as sardinhas, as febras e o tinto na noite de dia 12...



... em Pádua, os festejos são mais orientados para o aspecto religioso, envolvendo uma grande procissão* no dia 13, onde as crianças se vestem como o Santo e distribuem pão simbolicamente.


Também há outros aspectos em que Itália e Portugal se diferenciam, nomeadamente no que diz respeito às respectivas igrejas construídas como homenagem ao Santo António. A Igreja do Santo, em Lisboa, de dimensões claramente inferiores à grande basílica italiana, foi alegadamente construída no local onde nasceu. Para os mais distraídos, é uma pequena igreja ao pé da Sé, no bairro de Alfama.

Em Pádua, a Basilica di Sant'Antonio foi construída um ano após a sua morte e é das mais visitadas do mundo. É aí que estão os seus restos mortais.
Para terminar este post, não poderia deixar de fazer referência a um outro aspecto relacionado com o Santo António: a colecção de 728 "Santo Antónios" que o meu avô ofereceu à cidade de Portalegre (da qual o Santo também é padroeiro), onde viveu durante muitos anos e que se encontra no Museu Municipal. Porquê coleccionar estes Santos, em formas de estátuas e de quadros essencialmente? Diz-se que foi após o nascimento do meu pai, de nome António, que se dedicou a tal passatempo. Se algum dia estiverem pelo Alentejo, por que não visitar?
.
* Também em Lisboa tem lugar uma procissão durante o dia 13, muito menos movimentada do que a de Pádua. Muitos provavelmente nem saberão da sua existência.
2 Comments:
Qd me disseste q me tinhas dedicado um post sobre os popular saints, pensei q vinha ler algo +escaldante. A coisa ainda prometeu com aquela história dos feriados que "tão bem calham" mas mas acabaste por fazer uma análise objectiva, muito PC. Eu kero é polémika!!! ;)
E "muito PC" vem a ser o quê, exactamente?
Tu queres é rambóia. Essa é que é essa. :)
Post a Comment
Subscribe to Post Comments [Atom]
<< Home