20.1.06

enquanto houver estrada para andar

S - repara, a tua liberdade acaba onde acaba o teu corpo. estás limitado por este bocado de carne que te faz arrastar pelas ruas! não consegues compreender isso?
H - ainda assim, há tanta coisa que podes fazer com esta carninha...
S - estou a falar a sério...
H - eu sei. e eu também. só te estava a tentar animar, a tentar mostrar-te um lado positivo.
S - já viste bem... a quantidade ainda maior de coisas que tu poderias fazer se não tivesses um corpo, uma forma?
H - ... ou pelo menos que fosse uma forma com mais elastecidade, para não causar danos maiores...
S - só queria poder sentir que fiz tudo aquilo que tive vontade de fazer, e que não posso. neste momento sinto-me vazia, parece que me falta preencher cada poro do meu corpo. e as únicas coisas que vejo à minha volta para o fazer, não passam de futilidades. coisas vazias, sem significado, que aparentam durante um certo tempo sarar feridas que não têm cura. apenas as cobrem. e é tão fácil elas ficarem descobertas novamente...
H - o que é que mais gostavas de fazer e não podes, ou achas que não podes por estares limitada pela "carninha"?
S - gostava de voar.
H - livre como um pássaro...
S - os pássaros não são livres, também eles têm um corpo. gostava de voar como um pensamento. gostava de compreender tudo. gostava de abraçar aquelas pessoas. aquelas que eu adoro e que não consigo alcançar. abraçar no sentido metafórico, obviamente, porque não teria braços para o fazer. gostava de mostrar que eu estava ali ao lado delas... gostava de poder acordar todos os dias num sítio diferente, e de poder voltar sempre que assim o entendesse. gostava de não estar presa. gostava... gostava... gostava de ser eu.
anda daí. vem voar comigo.

não penses mais nisso

- desculpe... é aqui que fazem operações para trocar corações humanos por corações de animais?
- é sim... em que posso ajudá-la?
- bom... eu queria trocar o meu coração.
- hum hum. Sente-se, por favor.
- obrigada...
- diga-me, dona...
- marta.
- dona mart....
- marta. Apenas marta.
- marta. Diga-me, por que motivo o quer fazer?
- bom... eu tenho sofrido demais com este coração com que nasci. Sinto demasiado, sabe? E isso causa-me um grande desconforto, uma grande angústia... uma grande dor. Torna-se insuportável, por vezes. E eu não quero mais sofrer. Quero perder a minha sensibilidade. Quero tornar-me fria e amarga. Quero poder passar por um sem-abrigo faminto e prosseguir, sem pensar, sem parar... olhá-lo nos olhos sem sentir a dor que o consome. Quero deixar de sonhar para não cair. Quero passar pela vida, e não vivê-la. Já vivi demais e consequentemente já sofri demais...
- mas... então acha que se trocar o seu coração pelo coração de um animal irracional, que deixará de sofrer? Acha que o Homem é o único animal que sente e que sofre?
- não, claro que não...
- então... não estou a perceber. Quer trocar o seu coração pelo de um animal para assim deixar de sofrer, mas ao mesmo tempo sabe que os animais também sofrem...
- sim... menos um. Há um animal em particular que não sofre.
- hum... curioso... qual é esse animal?
- o Dr. devia saber melhor que eu...
- hum... marta?
- diga...
- o animal...
- não sabe?
- é esse?
- esse qual?
- a marta.
- ah! Não o estava a perceber. Não, Dr. Claro que não é a marta!
- bom, confesso que estou um pouco baralhado. Não estou a ver qual seja esse animal...
- a Barata.
- ...
- quero trocar o meu coração pelo coração de uma barata. Sempre ouvi dizer "aquela pessoa tem mesmo coração de barata!!" quando se referia a alguém insensível. É por isso que aqui estou. É por isso que quero trocar o meu coração pelo coração de uma barata.
- desculpe discordar, mas... costuma dizer-se "sangue de barata" e não "coração de barata"... e além disso as baratas nem têm coração!
- melhor. É mesmo isso que eu quero.

17.1.06

ando cinematográfica... #2



{In the house on the beach}
Joel: I really need to go. I should catch my ride.
Clementine: So go.
Joel: I did! I walked out the door! I was too nervous. I thought maybe you were a nut. But you were exciting. I felt like... I was scared like a little kid.
Clementine: You were scared?
Joel: Yeah... I thought you knew that about me. I ran back to the bonfire, trying to outrun my humiliation.
Clementine: Was it something I said?
Joel: Yeah, you said "so go". Said it with such disdain, you know?
Clementine: Oh, I'm sorry!
Joel: It's ok.
Clementine: I wish you had stayed...
Joel: I wish I had stayed, too! I swear to god, I wish I had stayed! I wish I had done a lot of things. I wish... I wish I had stayed... [walking out]
Clementine: Joely? What if you stayed this time?
Joel: I walked out the door... there's no memory left.
Clementine: Come back and make up a goodbye at least! Pretend we had one...

.

How happy is the blameless Vestal's lot!
the world forgetting, by the world forgot
eternal sunshine of the spotless mind!
Each pray'r accepted, and each wish resign'd...

Alexander Pope,
Eloisa to Abelard.

Soares VS Cavaco



Soares diz: MP3, não há duas sem três!

Cavaco responde: Soares diz que pode dar MP3. iPod?!


E assim se dá o choque tecnológico de que Sócrates falava...

ando cinematográfica... #1


.

Love is all a matter of timming. It's no good meeting the right person too soon or too late.
If I'd live in another time or place... my story might have had a very different ending.


.2046